CADERNO 2 – MÁQUINA
o que é?
- poemas curtos ou longos ou narrativas breves ou desenhos ou fotos em torno de um autor ou tema
- tema desta edição: “texto 1”, do livro antropofagias, de herberto helder.
Texto 1
Todo o discurso é apenas o símbolo de uma inflexão
da voz
a insinuação de um gesto uma temperatura
a sua extraordinária desordem preside em pensamento
melhor diria <<um esforço>> não coordenador (de modo algum)
mas de <<moldagem>> perguntavam <<estão a criar moldes?>>
não senhores para isso teria de preexistir um <<modelo>>
uma ideia organizada um cânone
queremos sugerir coisas como <<imagem de respiração>>
<<imagem de digestão>>
<<imagem de dilatação>>
<<imagem de movimentação>>
<<com as palavras?>> perguntavam eles e devo dizer que era
uma pergunta perigosa um alarme colocando para sempre
algo como o confessado amor das palavras
no centro
não tentamos criar abóboras com a palavra <<abóboras>>
não é um sentido propiciatório da linguagem
introduzimos furtivamente planos que ocasionais
ocupações (<<des-sintonizar>> aberto o caminho
para antigas explicações <<discursos de discursos de discursos>> etc.)
fixemos essa ideia de <<planos>>
podemos admiti-los como <<uma espécie de casas>>
ou <<uma espécie de campos>>
e então evidente para serem habitados percorridos gastos
será que se pretende ainda identificar <<linguagem>> e <<vida>>?
uma vez se designou mão para que a mão fosse
uma vez o discurso sugeriu a mão para que a mão fosse
uma vez o discurso foi a mão
partia-se sempre de um entusiasmo arbitrário
era esse o <<espírito>> o <<destino>> da linguagem
agora estamos a ver as palavras como possibilidades
de respiração digestão dilatação movimentação
experimentamos a pequena possibilidade de uma inflexão quente
<<elas estão andando por si próprias!>> exclama alguém
estão a falar a andar umas com as outras
a falar umas com as outras
estão lançadas por aí fora a piscar o olho a ter inteligência
para todos os lados
sugerindo obliquamente que se reportam
a um novo universo ao qual é possível assistir
<<ver>>
como se vê o que comporta uma certa inflexão
de voz
é uma espécie de cinema das palavras
ou uma forma assustadoramente juvenil
se calhar vão destruir-nos sob o título
<<os autômatos invadem>> mas invadem o quê?
/////Herberto Helder, “Antropofagias”, Ou o poema contínuo, p. 321-322
como?
- a proposta é responder ao poema. como você faria isso? reinventaria o poema à sua maneira? pegaria uma imagem ou ideia dele e escreveria um poema? escreveria uma narrativa? um ensaio? desenharia? enviaria uma foto?
- pretendemos vender o caderno por, no máximo, R$ 6, para pagar os custos de produção, então não haverá remuneração em dinheiro. cada autor vai receber 1 caderno.
quando?
- até 6 de junho, 2014: envie seu material para o email kza1@riseup.net
- até o dia 30 de junho, 2014: avisaremos por email se seu texto fará ou não parte do caderno
- até novembro de 2014: lançamento do caderno